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A arquitetura tem, historicamente, influenciado a forma como vivemos, interagimos e nos desenvolvemos. No entanto, nas últimas décadas, a convergência entre a neurociência e a arquitetura trouxe novas perspectivas sobre o impacto que os espaços exercem sobre o cérebro humano. Nesse contexto, surge o conceito de ambiente enriquecido — um termo originalmente oriundo da neurociência experimental, mas que hoje se desdobra em múltiplas aplicações práticas no campo da arquitetura, do urbanismo e do design.

A expressão enriched environment foi popularizada a partir dos estudos de Rosenzweig, Bennett e Diamond (1960), que demonstraram, em experimentos com roedores, que a exposição a ambientes variados e estimulantes aumentava significativamente a densidade sináptica e o desenvolvimento do córtex cerebral.

Em ambientes enriquecidos, há uma multiplicidade de estímulos sensoriais, sociais e cognitivos, em oposição aos ambientes empobrecidos, caracterizados pela monotonia e isolamento.

No campo da arquitetura, o conceito se traduz em espaços que incentivam a curiosidade, a exploração, a flexibilidade de uso, a interação social e o bem-estar emocional, por meio de elementos como:

  • Variedade de cores, formas e texturas
  • Iluminação natural e ventilação cruzada
  • Integração com natureza (biofilia)
  • Layouts não lineares e abertos
  • Estímulos sensoriais equilibrados (visuais, táteis, acústicos)

Sede Amazon – Seattle – Spheres – exemplo de ambiente enriquecido

Ambientes enriquecidos estimulam a neurogênese e a plasticidade sináptica, sobretudo nas regiões do hipocampo e córtex pré-frontal — áreas relacionadas à memória, tomada de decisão, orientação espacial e regulação emocional (Kempermann et al., 1997).

Além disso, estudos contemporâneos (Ulrich, 1984; Kellert et al., 2011) evidenciam que ambientes com conexão com a natureza reduzem níveis de cortisol, melhoram a atenção sustentada e aceleram a recuperação de pacientes em ambientes hospitalares.

O modelo teórico do Place Attachment (Altman & Low, 1992) também contribui, ao explicar como as pessoas desenvolvem vínculos afetivos com determinados espaços, a partir de experiências significativas e estímulos emocionais positivos.

Aplicações na Prática Arquitetônica

Ambientes enriquecidos podem ser implementados em diferentes escalas e tipologias arquitetônicas:

  • Ambientes educacionais: layout flexível, cores estimulantes, mobiliário adaptável e zonas de descoberta
  • Espaços corporativos: ambientes de descompressão, design biofílico e iluminação circadiana
  • Hospitais e clínicas: paisagens visuais, conforto acústico e estratégias de wayfinding intuitivo
  • Espaço urbano: mobiliário interativo, diversidade de usos e conexão com o entorno natural

Esses elementos, quando articulados intencionalmente no projeto, podem ampliar o desempenho cognitivo, reduzir o estresse e promover vínculos mais saudáveis entre o indivíduo e o espaço.

Escola Projeto Vida – SP (ambiente escolar) -Exemplo pratico

Centro de Acolhimento Maggies – Inglaterra – Exemplo Pratico

Projetar ambientes enriquecidos é compreender que o espaço físico não é neutro: ele afeta profundamente nossa percepção, nossa cognição e nosso comportamento.

A partir da convergência entre arquitetura e neurociência, é possível construir ambientes mais inclusivos, estimulantes e humanos — contribuindo para cidades e edifícios que não apenas abrigam, mas também transformam as pessoas que os habitam.

By Amanda Siqueira Marmo

Arquiteta e Urbanista formada pela FMU, com 17 anos de experiência em projeto de arquitetura, especialista em neurociência aplicada à arquitetura pela Neuroarq Academy, Embaixadora e Consultora da Academia Brasileira de Neurociência Aplicada à Arquitetura (neuroarq), sócia da Com.Tato Arquitetura e MGE Engenharia Inteligente, atualmente faz especialização em Arquitetura Sustentável pela Ugreen Academy