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RIO — A produção industrial subiu 0,8% em outubro , na comparação com setembro deste ano, de acordo com a Pesquisa Mensal da Indústria ( PMI ), divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE . Em relação ao mesmo período do ano passado, o avanço foi de 1,0%. Essa foi a terceira alta mensal seguida registada pelo indicador que mede o desempenho econômico do setor. A alta pelo terceiro mês consecutivo, com ganho acumulado de 2,4% não era vista desde 2017.

Economistas ouvidos pela Bloomberg estimavam um avanço de 0,9% entre setembro e outubro, e de uma variação de 1,4% em relação ao mesmo período do ano passado.

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No acumulado do ano, a indústria registra um recuo de 1,1%, influenciada pela queda na indústria extrativista de 9,5%, com impactos do acidente de Brumadinho. Essa performance faz com que o resultado acumulado de janeiro a outubro seja 2,2% no indicador de bens intermediários. O acumulado nos últimos doze meses é de -1,3%.

Na visão da economista do IBRE/FGV, Renata de Mello Franco, a análise desses resultados se foca na indústria extrativa e de transformação.

— A extrativa tem demonstrado dificuldade de se recuperar desde a tragédia de Brumadinho. E, para compensar essa baixo rendimento, a indústria de transformação está revertendo um pouco do resultado negativo que teve no ano passado.

Em outubro deste ano, 14 dos 26 grupos registraram números no campo positivo, ante 11 no mês de setembro. O resultado de outubro ainda é 15,8% inferior ao ponto mais alto da série em 2011.

A principal atividade que puxou o avanço do resultado da indústria foi a de produtos alimentícios, com 12,3%. A produção de açúcar, foi o destaque do indicador. Além da alimentação, a produção de cana de açúcar para o etanol também pesa no resultado. Suco de laranja, carne bovina e aves são relevantes no resultado deste indicador, segundo dados do IBGE.

Em comparação a outubro de 2018, influenciam positivamente o balanço produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,2%), veículos e autopeças (3,5%), máquinas e aparelhos elétricos (6,9%), produtos de metal (4,9%) e bebidas (3,6%). Bens de consumo registram um crescimento de 4,1% e é o principal fator para o resultado positivo.

Incentivo ao consumo movimenta a indústria
A liberação do FGTS é um dos fatores que movimentaram a economia no terceiro trimestre, segundo os especialistas. Com maior poder de consumo, a população adquire produtos como eletrodomésticos e eletrônicos. Além disso, a redução de taxa de juros e inflação controlada melhoram o cenário para o consumidor.

Para André Macedo, coordenador de indústria IBGE, esse resultado rompe o comportamento de instabilidade dos últimos dois anos, com mais alternância de taxas e demonstra um avanço da indústria.

— A inflação mais comportada, a taxa de juros mais baixas, aumento da massa de rendimentos e maior acesso ao crédito ajudam esse resultado. Observamos também uma melhora, mesmo que gradual, do mercado de trabalho que impacta positivamente o resultado da indústria. A liberação do FGTS e eventos comerciais como Black Friday e final de ano também contribuem.

A estratégia de aquecimento da economia se repete. No final de 2017, o governo Temer também deu acesso ao fundo de garantia para a população a fim de incentivar o consumo e influenciar os indicadores do país. Segundo Renata de Mello, esses esforços ajudam, mas não são suficiente para a recuperação de forma consistente.

— Percebemos um comprometimento da renda hoje com o consumo. Mas dado o cenário ruim, esse aumento de demanda agora pode apresentar uma melhora lá na frente. A queda do bens de capital pode ser reflexo de um adiamento dos investimentos. Com essa melhora dos resultados da economia, pode atrair novos aportes futuros da parte dos investidores. Só com o estímulo à demanda não voltaremos aos patamares de 2014.

Retração nos investimentos
Dentre as quarto grandes categorias econômicas, apenas uma ficou negativa. A performance de queda em bens de capital (-2,2%), se explica, segundo Macedo, pela incenteza de investimentos no país.

— Há uma melhora recente, mas ainda há espaço para avançar e reestabelecer os antigos patamares. A qualidade do crescimento de outubro é maior do que nos últimos meses, devido ao espalhamento nos setores.

Desde junho de 2019, a PMI registra números negativos no segmento de bens de capital. O aumento da taxa de juros do financiamento agrícola, na visão de Macedo é o que puxa esse resultado negativo.

Os economistas das instituições financeiras projetam um cenário de estagnação para a produção industrial no ano, de baixa de 0,7%, segundo pesquisa Focus do Banco Central.

Segundo o Goldman Sachs, a expectativa é que o setor industrial de baixo desempenho se beneficie de maneira lenta.

“A recuperação econômica é impulsionada por baixas taxas de juros reais, condições financeiras acomodatícias, aumento da confiança dos negócios e expectativa de investimentos mais firmes, mas continua enfrentando ventos contrários”, diz o relatório do banco. Os especialistas reforçam ainda o impacto negativo da crise na Argentina para as exportações brasileiras.

Projeções para o PIB
Na terça-feira, o IBGE informou o que o PIB brasileiro avançou 0,6% no terceiro trimestre de 2019, na comparação com o encerrado em junho, com crescimento de 0,8% do setor industrial.

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O comportamento da indústria é um dos principais termômetros para avaliar o desempenho do PIB. Com o resultado deste mês, a questão é se o PIB conseguirá um ritmo de aceleração até o fim do ano.

Desde a divulgação do resultado econômico na terça, analistas estão revisando as projeções para 2019 e 2020. De acordo com o economista do banco ABC Brasil, Daniel Xavier, a perspectiva é de continuidade do ritmo de crescimento. O especialista projeta um crescimento do PIB de 1,2% este ano e 2,5%, no próximo.

— Esse resultado sugere um crescimento contínuo para indústria, impactando positivamente as projeções para o resultado do PIB. A valorização da bolsa é um indicador antecedente desta melhora.

De acordo com os dados do Banco Central, a previsão do PIB do Brasil em 2019 é de uma alta de 0,99%.

Fonte: O Globo