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É a freguesia com mais habitações sociais de Lisboa. Há um ano era também a única zona da capital onde os preços das casas estavam em queda. No final de 2018, comprar casa em Marvila ainda era mais acessível do que no resto da cidade, com o valor do metro quadrado a ficar 11% abaixo da mediana de 3010 euros registada no município. Mas por causa de um empreendimento de luxo, os preços das casas em Marvila dispararam 80% no ano passado.

Nos terrenos do Prata Living Concept, no Braço de Prata, vão nascer 500 casas nos próximos anos, mas para já só 28 é que estão prontas e outras tantas estão em construção.

Segundo o INE, no segundo semestre do ano passado foram vendidas no espaço daquele empreendimento 45 imóveis. Os preços das casas oscilam entre os 735 mil euros e os dois milhões de euros. Estas vendas impulsionaram os preços da freguesia, que nos dois primeiros trimestres de 2018 até tinham baixado. Começaram a subir no terceiro trimestre, quando foi registado um aumento de 24%.

Segundo os dados publicados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, no espaço de um ano, o valor mediano das vendas em Marvila passou de 1483 euros por metro quadrado para 2666 euros, um aumento de 1183 euros.

Mas na ferramenta interativa do INE que permite analisar os preços das casas em zonas específicas das freguesias, é possível perceber que na área do Prata Living Concept o valor do metro quadrado foi de 4944 euros no último trimestre de 2018, e que neste período foram vendidas naquela zona 24 casas.

No trimestre anterior, em que foram ali vendidas 21 casas, os preços chegaram aos 5036 euros por m2, um valor que chega a ultrapassar os preços praticados em zonas mais nobres da cidade, como a Avenida da Liberdade. Poucas ruas ao lado do empreendimento de luxo de Marvila, os valores descem para menos de metade: 2043 euros por metro quadrado.

Para o presidente da Junta de Freguesia de Marvila, o aumento dos preços é normal, e reflete a “adequação” da freguesia ao momento atual do mercado imobiliário.

“Marvila é uma freguesia extensa e diversa, com uma oferta vasta de habitação social. Esses valores reportam a zonas específicas que têm associados novos investimentos, não só o Braço de Prata mas também um conjunto de empreendimentos que irão nascer na chamada Marvila Antiga, entre a linha do comboio e o Tejo. Os investidores acham que a zona ainda tem preços aceitáveis e apetecíveis”, refere José António Videira, em declarações ao Dinheiro Vivo.

O autarca reconhece que em certas zonas da freguesia já se sente alguma gentrificação e fala mesmo em “bolha imobiliária”, dando o exemplo do prédio Santos Lima, onde os inquilinos estão a ser pressionados a sair das casas pelo dono do imóvel.

Chiado chega aos oito mil euros
Os preços das casas aumentaram 23% em Lisboa no ano passado, atingindo 3010 euros por m2. Logo a seguir a Marvila, foi na freguesia vizinha do Beato que os preços mais subiram: 48%, chegando a um valor mediano de 2317 euros.

E se há um ano não existia na capital nenhuma freguesia onde os preços ultrapassassem os 4000 euros por m2, hoje existem três: Santo António, Santa Maria Maior e Misericórdia.

No mapa interativo do INE é possível perceber que os metros quadrados mais caros da capital no final do ano passado ficam situados entre a praça dos Restauradores e o metro da Avenida da Liberdade. No último trimestre do ano foram ali vendidas 59 casas por um valor mediano de 5500 euros por m2. Logo a seguir surge a zona do Cais do Sodré com 105 vendas e um valor de 5147 euros.

A mesma ferramenta permite ainda perceber que em certas zonas do Chiado os valores de venda ultrapassaram no final do ano passado os oito mil euros por m2.

Há apenas uma freguesia da capital que foge à regra. No Parque das Nações, o preço das casas caiu 0,3% em 2018. O movimento já tinha sido detetado no terceiro trimestre do ano passado. Na altura, os especialistas explicaram ao Dinheiro Vivo que os preços das casas na freguesia mais jovem de Lisboa chegaram a um patamar tão elevado que não têm margem para subir mais.

Como será 2019?
As previsões dos especialistas do setor apontam todas no mesmo sentido: em 2019, os preços das casas em Portugal, e em particular nas zonas mais pressionadas como Lisboa e Porto, deverão chegar a um ponto de estagnação.

“Este vai ser o ano da consolidação do mercado, o que quer dizer que os preços terão tendência não a descer, mas pelo menos a estabilizar”, prevê Hugo Santos Ferreira, vice-presidente executivo da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários.

Para o responsável, a “cura” para as “dores de crescimento” do mercado imobiliário português está em duas ferramentas “essenciais para criar oferta e fazer descer os preços”.

A primeira são as recém criadas Sociedades de Investimento e Gestão Imobiliária (SIGI), por poderem atrair para o país “investimento em projetos de grande escala”.

A segunda é a aposta no chamado mercado alternativo, que inclui a criação de projetos de coworking, cohousing ou senior housing, “conceitos que precisam de menos espaço privado, por terem mais áreas comuns, e são atrativas para o novo tipo de residentes do país, como os nómadas digitais”. Com a criação deste tipo de oferta, conclui, o segmento tradicional do mercado ficará mais disponível para as famílias portuguesas.

Fonte: Diário de Notícias