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A ocorrência de mais uma tragédia no setor da mineração trouxe ainda mais à tona a urgência do debate sobre opções sustentáveis para o setor. O rompimento da barragem VI na região de Brumadinho, Minas Gerais, na última sexta (25), foi mais um alerta para que o modelo de mineração nacional seja repensado.

De acordo com o Cadastro Nacional de Barragens, feito pela Agência Nacional de Mineração (ANM), o Brasil possuía, ao final de 2016, um número de 839 barragens. Deste montante, apenas 19 foram classificadas com um risco alto de acidentes. Contudo, ainda de acordo com o relatório, 223 barragens brasileiras possuem um alto potencial de dano. As mais de 800 barragens acumulam rejeitos de diversos minérios como estanho, ouro, cobre, níquel, ferro, xisto, entre outros.

Os barramentos, como também são chamados, servem para que todos os subprodutos da atividade de mineração, que geralmente estão em estado barroso, não vazem para regiões com população, espécies animais e vegetais e rios. Os dois casos de rompimento de barragens, em Mariana (2015) e o de Brumadinho, chamam para uma reflexão sobre o método de mineração a úmido, que produz os rejeitos. O modelo deve ser repensado principalmente porque já existem alternativas no mercado.

Mineração a Seco

Uma das alternativas para o tradicional beneficiamento a úmido é o beneficiamento a seco. E a avaliação de que a técnica pode ser o futuro da mineração é, inclusive, um dos posicionamentos da Vale, proprietária da barragem rompida em Minas Gerais na última semana. A ideia da Vale é que até 2025, cerca de 70% de todas as minas da empresa funcione com mineração a seco.

Um dos principais exemplos práticos da mineração a seco é o projeto S11D da Vale. De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), o projeto está em funcionamento no Pará desde 2017 e o objetivo da companhia brasileira é que até 2022 o Estado do Norte tenha 70% da mineração de ferro a partir da técnica. Atualmente pouco mais de 40% é produzido assim, com pouco uso de água.

Tecnologia Nacional

O mercado brasileiro já possui uma tecnologia de mineração a seco. Lançado no ano passado e inovador no setor, o Eco Gold System Joares não utiliza água no processo de separação do ouro e cobre. Juarez Filho, idealizador do projeto e diretor-presidente da Ourominas, uma das maiores empresas de compra e venda de ouro do Brasil, defende que a sustentabilidade deveria ser prioridade no setor de mineração.

A técnica desidrata a terra para depois moer e posteriormente, através de um avançado sistema, separar o ouro dos demais materiais. Ele também dispensa a utilização de produtos químicos como mercúrio e cianeto, o que impede possíveis contaminações no solo.

Dessa forma, obtêm-se aproximadamente 90% do minério e com este grau de aproveitamento não será necessário utilizar agentes químicos para beneficiar os resíduos do ouro.

A inovação consegue, ainda, eliminar a necessidade de criar barragens de rejeitos, o que pode representar até 80% a menos de custo na comparação com o método tradicional. Além disso há a economia hídrica. Por causa disso, além de evitar a utilização de água, há um benefício financeiro, já que os gastos no processo podem ficar até 50% menor para o empreendimento. A economia de água é, inclusive, um dos fatores que impressiona. De acordo com empreendimentos do setor de mineração, uma tonelada de ouro extraída pode chegar a utilizar 489 litros de água em todo o processo.

O diretor da Ourominas ressalta que a questão de controle da contaminação é um dos pontos fortes do equipamento. O assunto é importante porque o passivo tóxico da mineração tradicional pode afetar gerações. “Se daqui a 10 anos uma família for morar na região que serviu para mineração, certamente o solo estará contaminado. Então, cabe ao setor se modernizar”, diz.

Fonte: ACidadeON Campinas