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RIO – A Coppe/UFRJ inaugura nesta quarta-feira um sistema de simulação de correntezas marinhas no gigantesco tanque de seu Laboratório de Tecnologia Oceânica (LabOceano). Fruto de uma parceria com a Petrobras, que investiu R$ 18,8 milhões no projeto de R$ 22 milhões – os R$ 3,2 milhões restantes vieram da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) -, os equipamentos permitirão uma melhor reprodução do ambiente enfrentado nas operações de exploração e extração de petróleo em águas profundas, tanto no chamado pós-sal quanto no pré-sal, conta Paulo de Tarso Themistocles Esperança, coordenador executivo do LabOceano e professor do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ.

– Já podíamos reproduzir situações como ventos e ondas na superfície com alta precisão, mas agora, com a inauguração do sistema de correntezas, vamos poder simular a coluna d’água como um todo para ajudar nas pesquisas para exploração de petróleo em águas profundas – explica. – E tanto faz que seja no pré ou pós sal, porque a grande diferença entre eles está na parte geológica. Do ponto de vista da lâmina d’água, é a mesma coisa, só muda o local.

Como no oceano as correntezas variam de velocidade e mesmo direção dependendo da profundidade, o sistema poderá gerar seis correntes em níveis diferentes do tanque de 40 metros de comprimento por 30 de largura e 15 de profundidade, com um poço central de mais dez metros e capacidade para cerca de 20 milhões de litros d’água. Cada uma movimentará uma “camada” de cerca de 2,5 metros cada na coluna d’água principal do tanque.

– São como prateleiras de uma estante – compara Paulo de Tarso. – Podemos simular seis correntes em seis velocidades diferentes em toda coluna d’água do tanque. Numa escala de um para cem, por exemplo, isso significa que cada uma representará uma profundidade média de 250 metros, com uma coluna d’água de 1,5 mil metros no total.

Com isso, acrescenta Paulo de Tarso, os pesquisadores poderão simular, por exemplo, o comportamento de linhas flexíveis e rígidas que conectam poços de petróleo no leito marinho com as plataformas, avaliando riscos de rupturas e consequentes vazamentos.

– Como estas linhas são submersas, elas estão especialmente sujeitas à ação das correntezas – diz. – Dependendo da força das correntes, as linhas podem oscilar mais fortemente, podendo se romper ou apresentando uma redução de sua vida útil, com um custo de substituição muito grande.

Outra aplicação do sistema de correntes é simular as operações de instalação de equipamentos no leito marinho, destaca Paulo de Tarso.

– Muitas vezes estes equipamentos são “lançados” das plataformas para “pousar” no fundo do mar – conta. – Assim, no caminho, eles também estão sujeitos à ação das correntes, que podem afetar sua trajetória e consequente posição final. E se terminarem num local muito distante do previsto no projeto, isso pode exigir operações de realocação e reposicionamento que também são muito caras.

Por fim, o sistema também permitirá a simulação das correntes nas plataformas em si, que junto com os ventos e as ondas podem fazer com que elas se desloquem mais ou menos, algo importante, por exemplo, nas chamadas “operações de alívio”, quando transferem o petróleo que extraíram para que seja levado por navios às refinarias.

– Nestas operações, o navio e a plataforma ficam relativamente muito próximos, entre cem e 200 metros de distância – lembra Paulo de Tarso. – Mas situações de correntezas fortes podem exigir medidas de afastamento maior por segurança para evitar o risco de uma eventual colisão com consequências que podem ser muito graves.

As correntes do tanque serão geradas por um sistema de tubulações ligadas a seis motores e seis bombas hidráulicas instalados em um prédio anexo ao LabOceano. Com potência da ordem de mil HP cada, as bombas são fortes o suficiente para movimentar as enormes massas d’água necessárias para simular o fenômeno marinho, podendo ser operadas de modo independente para que velocidade e direcionamento de cada uma das seis correntes possam ser modificados sem alterar as demais.

Fonte: O Globo