fbpx

O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) tem se manifestado a favor da privatização de partes da Petrobras, medida que vê como necessária para acabar com a dívida líquida da empresa. A petroleira fechou 2017 devendo R$ 280,75 bilhões. Em setembro deste ano, o déficit aumentou para R$ 291,83 bilhões, resultado atribuído pela companhia “à depreciação do real frente ao dólar”.

Bolsonaro e sua equipe econômica, chefiada pelo futuro ministro Paulo Guedes, ainda estudam quais dos oito tentáculos da estatal podem ser repassados à iniciativa privada. Em outubro, ainda quando era candidato, ele disse que o “miolo” deve ser mantido em poder do Estado.

— A Petrobras, acho que tem de ser preservado o miolo dela. A questão de refinaria, refino, acho que você pode partir, paulatinamente, para privatizações — afirmou.

Especialistas no setor entendem como miolo a exploração e a produção de petróleo e gás, objetivo pelo qual a Petrobras foi fundada em 1953. João Luiz Zuñeda, sócio fundador da MaxQuim, empresa de avaliação de negócios na indústria química com foco em análise de mercados e competitividade, acredita que o futuro governo irá focar apenas nesta área.

Com isso, os demais sete setores devem ser total ou parcialmente privatizados. No caso do refino, por exemplo, o empresário acredita que a Petrobras ficará com refinarias do Sudeste, repassando à iniciativa privada as do Norte, Nordeste e Sul, como a Alberto Pasqualini, em Canoas. Movimento parecido deve acontecer com a oferta de gás natural. Zuñeda avalia que a petroleira continuará atuando, ainda que de maneira mais modesta, na venda deste tipo de combustível, extraído das mesmas reservas de petróleo.

— A má gestão da Petrobras gerou essa dívida enorme e, dentro desta ideia de privatizações de Paulo Guedes, o governo buscará dinheiro para pagar. A tendência é de que a Petrobras fique no negócio que ela começou e que faz muito bem, a exploração — avalia.

Economista-chefe da ES Petro, empresa de consultoria dedicada a acompanhar a dinâmica do mercado de petróleo, seus derivados e biocombustíveis, Edson Silva também projeta que a estatal empregue a maior parte dos esforços na exploração. O especialista argumenta que, além de ter expertise na área, o país detém reservas petrolíferas volumosas e de qualidade. Entre as vantagens da privatização de parte da maior estatal brasileira para o mercado e consumidor final, Silva cita o possível aumento da quantidade de produtos, da competitividade e a redução de preços dos derivados do petróleo e gás.

— A abertura de mercado na distribuição deu certo e por isso não me parece saudável manter o monopólio do refino. O mesmo deve acontece com transporte, onde a rede de oleodutos da Petrobras é baixíssima e isso eleva o preço de produção — complementa.

Diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Fernando Siqueira garante que uma empresa de petróleo integrada — participante de todas as etapas, do poço ao posto — é muito mais rentável. Ao citar prêmios de tecnologia em águas profundas ganhos pela estatal, lamenta a possibilidade de entrega de alguns setores para particulares:

— É preciso fazer ajustes, mas jamais privatizar. O governo perde o controle sobre o preço do produto. Hoje, o prejuízo em uma ponta pode ser compensado pelo superávit em outra.

Confira quais são os setores da empresa que podem ou não ser privatizados

Exploração de petróleo e gás – deve ser mantido

É a atividade central. A maior parte das reservas está em campos marítimos, mas, em terra, também há extração, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste. O gás natural é extraído com o petróleo. O site da Petrobras tem os sete tipos diferentes de plataformas que correspondem a este setor.

O que a área tem:

10 bacias produtoras marítimas e terrestres

Refinarias – privatização parcial

Locais onde o petróleo bruto é transformado em produtos como diesel, gasolina, nafta, querosene de aviação e gás de cozinha (GLP).

15 refinarias no país
2 milhões de barris de derivados por dia
NO RS – Refinaria Alberto Pasqualini (Canoas)

580 hectares
32 mil m³/dia de petróleo processado
Principais produtos são diesel, gasolina, GLP, óleo combustível, querosene de aviação, solventes, asfalto, coque, enxofre e propeno.
Atende, principalmente, Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina e Paraná.

Distribuição de combustíveis – privatização
É como a Petrobras faz seus produtos, como a gasolina, chegarem ao consumidor final, pela subsidiária Petrobras Distribuidora.

12 mil grandes clientes – entre indústrias, termelétricas, companhias de aviação e frota de veículos leves e pesados.
7,5 mil postos em todo o Brasil – a maior rede do país
R$ 1,58 bilhão de lucro líquido no acumulado do ano

Petroquímica e fertilizantes – privatização
Produz derivados de petróleo, como a parafina e a nafta, e converte o gás natural em ureia e amônia para uso como matéria-prima pelas indústrias. Tem participação societária em diversas empresas, como a Braskem, uma das maiores do setor petroquímico no mundo.

Oferta de gás natural – privatização parcial

É utilizado nas usinas termelétricas, convertido em ureia, amônia e outras matérias-primas de diferentes indústrias e, ainda, é usado como combustível nos transportes (GNV).

O mercado brasileiro é abastecido pela produção nacional, pela importação da Bolívia (por gasodutos) e pelo Gás Natural Liquefeito (GNL), trazido por navios de outros países para ser regaseificado em um dos três terminais da Petrobras: Pecém (CE), Baía de Todos os Santos (BA) ou Baía de Guanabara (RJ). Atua por meio da subsidiária Gaspetro.

9,2 mil quilômetros de gasodutos, que levam gás natural às residências, indústrias, usinas e veículos
23,6 milhões de m³ de gás natural por dia foram comercializados em 2017 (42% do mercado nacional)
R$ 257 milhões de lucro líquido em 2017

Geração de energia elétrica – privatização
Participação em usinas termelétricas, eólicas e pequenas centrais hidrelétricas, que complementam as necessidades de energia do país em períodos de seca e grande demanda.

36 unidades no parque gerador da Petrobras (próprias, de subsidiárias ou de empresas das quais a estatal é acionista).
20 termelétricas
1 no RS – Sepé Tiaraju
Fica em Canoas e tem potência instalada de 249 megawatts (MW).

Transporte e comercialização – privatização
Embarcações escoam a produção marítima dos campos de extração aos terminais (terrestres e aquaviários), e de lá até as refinarias. Também transportam petróleo, derivados, gás liquefeito de petróleo e etanol para abastecer os mercados nacional e internacional. Atua por meio da subsidiária Transpetro.

15 mil quilômetros de oleodutos e gasodutos
55 navios-petroleiros – é a maior empresa de logística do Brasil no transporte de granéis líquidos de combustíveis
R$ 121 milhões de lucro líquido em 2017

Produção de biocombustíveis – privatização
Em seu site, a estatal já informa que vai encerrar essa atividade. Os trâmites técnicos para extinção devem ser concluídos em breve. A atuação no setor se dá por meio da subsidiária Petrobras Biocombustível.

3 usinas próprias de biodiesel —Candeias (BA), Montes Claros (MG) e Quixadá (CE), essa última sem produção.
R$ 158,8 milhões de lucro líquido em 2017

Fonte: Zero Hora