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Ausente do mercado brasileiro desde 2009, quando devolveu um bloco promissor, o BM-S-22, que era o único operado no pré-sal por uma empresa estrangeira na década passada, a ExxonMobil voltou ao mercado brasileiro de exploração e produção com disposição. Prova disso são os US$ 3,5 bilhões que já investiu no país. Desde o ano passado, a Exxon fez lances em cinco leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e adquiriu mais 23 áreas.

Presidente da companhia no Brasil, a brasileira Carla Lacerda, diz que as mudanças regulatórias adotadas no país nos últimos dois anos justificaram o pagamento de R$ 6,7 bilhões de bônus de assinatura para o governo, valor maior que os R$ 6,1 bilhões pagos pela Petrobras no mesmo período

A reentrada no Brasil da maior companhia privada de petróleo do mundo, com produção de 3,9 milhões de barris equivalentes de petróleo e lucro de US$ 19,7 bilhões no ano passado, começou em 2013 de forma quase discreta. Naquele ano a ExxonMobil participou da 11ª Rodada tendo como sócia a OGX em um momento em que a empresa de Eike Batista já mostrava dificuldades. Juntos, compraram dois blocos em águas profundas das bacias do Ceará e Potiguar.

Mas foi a partir de setembro de 2017, na 14ª Rodada, que começou a ficar clara a intenção da ExxonMobil de recuperar o tempo perdido. E entrou no território em que concorrentes como Royal Dutch Shell, segunda maior empresa privada do mundo com produção de 2,7 milhões de barris equivalentes, começava a ganhar espaço em um ambiente antes dominado pela Petrobras.

“São três pilares que nos levaram a essa atuação recente. O primeiro está relacionado às reformas [no setor], iniciativas como a flexibilização do operador único, os ajustes na política de conteúdo local com valores mais atingíveis, a extensão do Repetro, hoje extremamente importante para a indústria, e a retomada das rodadas [da ANP], com um calendário previsível”, disse a executiva em uma rara entrevista ao Valor.

Mas faz uma ressalva quando ouve que a Exxon esteve ausente do país nos últimos anos, lembrando que a empresa está no país há 106 anos – chegou em 1912 como Standard Oil Company of Brazil e depois apenas como Esso – e tem 1.300 empregados em seu centro de serviços compartilhados em Curitiba (PR).

Carla cita ainda como atrativos a oferta de blocos considerados de alta qualidade, especialmente no pré-sal geológico como os adquiridos por ela na Bacia de Campos, sob o regime de concessão já que estão fora da faixa delimitada para a exploração no regime de partilha de produção. “O terceiro pilar são as fortalezas das parcerias que nós construímos para participar dessas rodadas”, diz.

Atualmente, a Exxon está em 25 áreas exploratórias ou em fase de desenvolvimento da produção, sozinha ou com sócios – Petrobras, Equinor (ex-Statoil), Galp, Azibrás (que comprou as participações da OGX), Queiroz Galvão, Murphy e Qatar Petroleum. Carla não fala sobre a participação na 5ª Rodada do Pré-Sal, marcada para o dia 28 de setembro, logo após a Rio Oil & Gas. Serão oferecidas as áreas Saturno, Titã, Pau-Brasil e Sudoeste de Tartaruga Verde, com bônus R$ 6,8 bilhões.

A presença da executiva entregando envelopes nos leilões se tornou uma constante. Oceanógrafa química, fez graduação e mestrado nos Estados Unidos e trabalha na ExxonMobil há 30 anos. Esta é a terceira vez que a executiva ocupa um cargo no Brasil. A empresa aguarda a regulamentação do Programa de Estímulo à Competitividade da Cadeia Produtiva, ao Desenvolvimento e ao Aprimoramento de Fornecedores do Setor de Petróleo e Gás Natural (Pedefor). O programa permitirá que as empresas instaladas no Brasil possam contabilizar como crédito de conteúdo local as compras feitas no país para projetos no exterior.

A Exxon encomendou à TechnipFMC (TFMC) no Brasil 17 árvores de natal e cinco conjuntos de válvulas e acessórios que reúne a produção de vários poços (manifolds) para o projeto de Liza, na Guiana Francesa. Carla diz que a TFMC participou de um processo de licitação com outros fornecedores internacionais.

A primeira produção no Brasil será no campo de Carcará, onde existe um reservatório com mais de 2 bilhões de barris de petróleo no bloco BM-S-8. A Exxon comprou da Equinor, que é a operadora, uma participação de 36,5% por US$ 1,3 bilhão. Posteriormente a Exxon adquiriu 40% dos direitos de produção da área Carcará Norte na 2ª Rodada de Partilha, realizada em outubro de 2017.

A área será explorada com os sócios sob dois regimes: a parte do reservatório de Carcará dentro do BM-S-8 sob o regime de concessão e a área Norte sob a partilha. O início da produção está prevista para 2023 ou 2024. Carcará foi citado pelo candidato do PDT à presidência Ciro Gomes, como um acordo lesivo à Petrobras, já que a estatal vendeu por US$ 2,5 bilhões os 66% que tinha na área para a Equinor, que posteriormente cedeu metade de sua fatia para a Exxon. Sobre a ameaça do candidato de desfazer o negócio caso seja eleito, Carla disse que preferia não comentar, porque a empresa é apartidária.

“Mas o que posso dizer é que depois da abertura do setor de óleo e gás, em 1997, de lá para cá a gente tem um histórico de estabilidade em todos os contratos que foram firmados em óleo e gás. Os contratos de concessão estão aí vigentes. Temos praticamente 350 a 400 contratos de concessão e em 2010, quando surgiu a partilha o governo respeitou os contratos de concessão. Nós estamos nos baseando nesse histórico”, pondera.

A presidente da Exxon diz que ainda não é possível falar em quanto vai investir nos próximos anos. Além dos aportes para iniciar a produção de Carcará, precisa perfurar sete poços de compromisso em vários blocos diferentes no pré-sal nas Bacias de Campos e Santos. As empresas contratadas para estudos sísmicos 3D em águas profundas ao Norte da Bacia de Campos foram a Petroleum Geo-Service (PGS) e a francesa CGGVeritas. A empresa precisa de autorização do Ibama para iniciar a fase de perfuração.

A executiva diz ainda que tem participado ativamente do processo de discussão entre a indústria, governo e ANP sobre o Pedefor.

Publicado em 18/09/2018 por Valor Online