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Prática do endowment, comum em universidades dos EUA e da Inglaterra, mas pouco presente no Brasil, baseia-se em doar verbas para uma poupança e aplicar os rendimentos na instituição

Com uma cerimônia no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um painel de debates sobre inovação, o fundo de doações criado por alunos e ex-alunos da Engenharia para fomentar ciência, ensino e empreendedorismo foi lançado na noite desta segunda-feira (25).

O Fundo Centenário, cujo nome oficial é fundo patrimonial ou endowment, consiste em aplicar doações em um fundo do mercado financeiro. O valor principal se mantém intocável, mas parte dos rendimentos é investida em competições estudantis, materiais para pesquisa e, no futuro, laboratórios de ponta. A outra parte volta para o bolo inicial, de modo que a “poupança” cresce continuamente.

Presente na cerimônia, Josep Piqué, responsável por programas de revitalização de cidades como Barcelona (Espanha) e Medellín (Colômbia), vê potencial para que o Fundo Centenário gere crescimento para Porto Alegre.

Fundos patrimoniais têm potencial de retorno maior se forem aplicados em startups geradas por alunos. Além de beneficiar os próprios estudantes, cada startup gera postos de trabalho, paga impostos e cria um ecossistema em seu entorno — afirma Piqué, que é consultor do Pacto Alegre, iniciativa de empresas e universidades para produzir ciência e conhecimento para a Capital.

Em breve discurso, o prefeito Nelson Marchezan elogiou a iniciativa e pediu que divergências partidárias e de opinião sejam superadas em prol dos potenciais benefícios à comunidade.

— Apesar de inspirado em universidades estrangeiras, será uma experiência em uma universidade 100% pública — ponderou. — É um desafio mudar o ensino, a estrutura, a Engenharia e a inovação — acrescentou.

Há endowments em universidades de elite inglesas e norte-americanas, como Harvard, Yale e Oxford. A modalidade também é empregada em museus, parques e centros culturais de países anglófonos liberais – incluindo Central Park e Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa).

Na educação, o fundo considerado como de maior sucesso é da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, criado em 1974: em 2018, acumulou US$ 39,2 bilhões (R$ 148,6 bilhões) — mais do que todo o orçamento do Ministério da Educação (MEC) para 2019, de R$ 116,8 bilhões, segundo o portal Siga Brasil, elaborado pelo Senado para acompanhar gastos públicos.

Cientista político e professor do Insper, Fernando Schuler salientou, em entrevista a GaúchaZH na semana passada, que o endowment “não é, por definição, resposta a nenhum tipo de crise conjuntural, mas uma poupança para o futuro”. Ele cita como bom exemplo o Canadá, onde estudou o modelo: para incentivar a criação desses fundos, a província de Ontário pagou um dólar canadense para cada dólar levantado por museus, orquestras e centros culturais junto à comunidade.

— A imensa maioria das organizações tem dificuldade no curto prazo. Mas o endowment existe para reduzir a vulnerabilidade das organizações a oscilações do mercado e do sistema político. Ele traz autonomia financeira e de gestão — afirma Schuler.

Fonte: Zero Hora